Beijo: entre a evolução e a construção cultural
- Fato Zero Notícias
- 18 de nov. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 19 de nov. de 2024
O beijo, um gesto universalmente reconhecido, é frequentemente associado ao amor e ao romance, mas sua origem pode estar enraizada em práticas muito mais pragmáticas. De acordo com um estudo recente publicado na revista Evolutionary Anthropology, o beijo humano pode ter evoluído de comportamentos relacionados à higiene, observados entre os grandes primatas, como chimpanzés e gorilas.

A origem do beijo: de primatas a humanos
O pesquisador Adriano Lameira, da Universidade de Warwick, propõe que o beijo atual seja um vestígio das sessões de higiene realizadas por nossos ancestrais primatas. Esses animais praticam a "catação", em que retiram parasitas e detritos dos pelos de seus companheiros. Como gesto final, é comum pressionarem os lábios levemente ou fazerem uma sucção, sugerindo que o beijo tenha se originado como um comportamento funcional e social.
Conforme os seres humanos perderam pelos ao longo de sua evolução, a necessidade dessas sessões de limpeza diminuiu, mas o "beijo final" persistiu, assumindo novos significados sociais e emocionais.
Outras hipóteses sobre a evolução do beijo
Embora a teoria de Lameira seja provocativa, não é a única. Alguns pesquisadores sugerem que o beijo:
Teve origem na amamentação ou no ato de alimentar bebês com comida pré-mastigada;
Surgiu como uma forma primitiva de "cheirar" para avaliar compatibilidade genética.
No entanto, Lameira argumenta que nenhuma dessas hipóteses explica completamente o contexto social e a função do beijo nos dias atuais.

O beijo como construção cultural
Apesar da origem evolutiva sugerida, o beijo não é uma prática universal. Um estudo de 2015, publicado na American Anthropologist, revelou que apenas 46% das 168 culturas analisadas incluem o beijo romântico em seus costumes.
Em algumas comunidades indígenas de caçadores-coletores, o gesto é considerado desagradável, evidenciando que o beijo pode ser mais uma construção cultural do que um instinto inato. Para alguns povos, outras formas de demonstrar afeto são mais relevantes, como colocar dedos nas narinas ou olhos, como fazem os macacos-prego, ou outros gestos específicos que refletem vínculos sociais.
A evolução cultural e biológica do beijo
Os antigos romanos já diferenciavam tipos de beijos, como o osculum (beijo no rosto para afeto social), o basium (beijo nos lábios sem conotação sexual), e o savium (beijo erótico). Esses exemplos mostram como o beijo ganhou camadas de significados socioculturais ao longo da história.
Ainda assim, o estudo de Lameira propõe um olhar intrigante para a evolução do gesto, sugerindo que a comparação entre espécies de primatas pode oferecer mais pistas sobre como o beijo se tornou parte de nossa interação social e emocional.
O futuro das pesquisas sobre o beijo
A hipótese de que o beijo é um resquício de práticas de higiene entre primatas é apenas o início de uma investigação mais profunda. Estudos futuros podem explorar as diferenças culturais e biológicas para entender como um gesto tão simples adquiriu tamanha complexidade e relevância na vida humana.
Seja um resquício de nossos ancestrais ou uma construção cultural, o beijo permanece um dos gestos mais enigmáticos e multifacetados da humanidade.
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